Abril de 2011

[...] e tudo continuava aparentemente bem até abril.
Quando comçei a sentir-me 'estranha', apareceu do nada uma tosse chata e insistente, ela aparecia e desaparecia, como se estivesse brincando de esconde-esconde. Como essa tosse era sem secreção, não dei muita inportância, pois acreditava que fosse alérgica. Eis que surge um outro sintoma: um desconforto no tórax e um cansaço com pouco esforço ( ao pentear o cabelo, sentia-me sem forças e cansada), e dias depois já não tinha vontade de ir trabalhar, só queria era ficar deitada, todo o tempo. Sem falar numa tristeza que de repente, tomava conta de mim, sentia vontade de chorar todo o tempo, por nada e por tudo também!
Até que no dia 12 de abril do ano passado, a Dri ao chegar do trabalho e ver-me jogada na cama, falou: 'hoje nós vamos ao médico, nem que eu lhe leve arrastada...'
E lá fomos nós, para Clínica São Roque, aqui na minha cidade, consultei-me com Dr. Ricardo Vieira, o qual me recebeu muito bem e não via motivos para tais sintomas. Faremos uma investigação, disse ele. De início solicitou-me Raio X de tórax, Eletrocardiograma e exame de escarro ( pois suspeitou que talvez fosse uma turbeculose.)
Exames feitos: Eletrograma e exame de escarro, ok. Raio X, manchas no pulmão direito.
Então, ele solicitou mais alguns exames: Ecocardiograma, Tomografia, hemograma.
Ecocardiograma, ok. Hemograma, ok. Tomografia: blá, blá, blá... visualização de nódulos, e uma página inteira de nomes técnicos. No final havia uma observação consideravelmente importante. Pedia-se que fosse feito uma biópcia.
Dr. Ricardo Vieira então, falou-me que ele só poderia acompanhar-me até alí, pois já não era mais a área dele, e pediu autorização para marcar uma consulta pra mim, com Drª Ana Paula, médica pneumologista, em Jequié, cidade vizinha.
Lá fui eu, dois dias após a consulta ter sido agendada, acompanhada de uma amiga e minha cunhada...fui tensa e calada a estrada inteira, como se eu já soubesse que ouviria dela uma notícia nada agradável.
Na sala de espera o tempo se arrastava, e com ele o meu pânico só aumentava. Chegou minha vez, entrei na sala da médica, acompanhada da Fernanda, minha cunhada. E após ver todos os exames que levei, ela olhou pra mim e perguntou: Izabel, você quer me perguntar algo?! (que pergunta hein?)
Mas antes mesmo que eu abrisse a boca, ela continou: - Você quer saber o que eu acho ?! (lógico né, afinal de contas eu estava alí pra isso. Só pensei!) Disse sim, por favor!
Ela disse - com esse resultado aqui, sem a biópcia, posso afirmar que podem ser duas coisa, uma ou outra: pode ser uma infecção causada por bactérias, mas também pode ser um tumor. ( não sentia minhas pernas, lágrimas nos olhos, continuei calada.)
Pra tiramos essa dúvida, só mesmo após realização da broncoscopia.
Na mesma semana, fui para Salvador, onde eu faria esse procedimento. (nossa, que exame mais chatinho, ele permite, através de um aparelho com fibras óticas, a visualização interna do sistema respiratório, desde a laringe até os brônquios.)
Após dez dias, saiu o tão esperando resultado: Secções revelam neoplasia constituida por proliferação de células atípicas com núcleos hipercromáticos e pleomórficos, cromatina grosseira e eventuais nucléolos evidentes, além de mitoses. NEOPLASIA POUCO DIFERENCIADA DE HISTOGÊNESE INCERTA.
Nota: a critério clínico realizar estudo imunohistoquímico para avaliação de histogênese e comportamento biológico da lesão.
Resumo: por questão de minutos sentir-me fora do ar, em choque. Estava na companhia da Dri e do meu amigo Edson Bastos, quando recebi essa notícia. Chorávamos os três...uma angustia e aflição sem tamanho.
 Nossa, como é difícil estar com câncer, pensei. Um diagnóstico como este chega abalando todos os aspectos da vida.
A partir disso, você se vê diante de situações novas nas quais jamais pensou que um dia teria que enfrentar. Frente ao diagnóstico do câncer e de todas as mudanças que acompanham este momento, muitos são os questionamentos e dúvidas que passam a permear sua cabeça em questão de minutos, horas, dias...
 De uma hora pra outra a sensação é de que tudo mudou e a pergunta que permanece é: E agora, o que fazer ?
 Adriana abraçou-me e disse: vamos chorar tudo que temos pra chorar agora, hoje, porque amanhã, é hora de sair pra luta!
Nessa noite, eu não consegui dormi, e por noites seguidas também. (tive que tomar anciolítico durante um tempo, até eu voltar ao eixo.)
Minha família e amigos não acreditavam que isso estivesse acontecendo comigo. ( nem eu acreditava.)
Foram-se formando inúmeras correntes de orações, e eu, durante as minhas sempre pedia ao PAI, que por favor, me concedesse sabedoria e forças para enfrentar os dias que me agaurdavam, que renovasse minha FÉ a cada amanhecer, e que me desse a dádiva de ver minhas sobrinhas Maria Eduarda e Maria Fernanda, crescerem.
E sempre lembrava de uma frase do saudoso ex vice-presidente, José Alencar, a qual diz: “Não tenho medo da morte. Se Deus quiser que eu morra, ele não precisa de câncer para isso. Se ele não quiser que eu vá agora, não há câncer que me leve”.


Izabel Cristina